Quinta feira, 28 de março de 1974
Jornal: O Estado de São Paulo
Tema: Enchente em Tubarão SC
Título: A cidade acabou agora começa a retirada.
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Laguna, a 30 km, é uma das escolhidas para receber os sobreviventes
de Tubarão. Todas as casas ao longo das praias de Laguna, vazias com o fim das
férias de verão, foram requisitadas pelo exército para abrigar flagelados.
“Tubarão já não existe mais”, decretou ontem no grupo escolar transformado em
sede do governo militar, o seu comandante, Major Claudio Medeiros Varela. Ele é
o autor do comunicado oficial divulgado ontem, no qual, entre outras
exposições, determina a abertura de uma vala comum no cemitério para o sepultamento
coletivo das vítimas.
Os que não morreram aproveitavam
o sol para sair, ou porque não tinham mais nada que os prendesse à cidade, ou
por que eram encaminhados para outros locais pelo exército ou pela polícia
civil. E apesar dessa diferença de motivos, a bagagem de todos que saiam a pé
era uma só: no máximo uma mochila. Nas estradas, os que abandonavam Tubarão de
automóvel ou de caminhoneta, levavam colchões
ou as poucas peças de mobília que sobraram, formando filas para passar
as barreiras policiais, nos locais onde o asfalto desmoronou, abrindo enormes
fendas.
A decisão militar de esvaziar a
cidade se apoia basicamente no fato de que, além da destruição quase total,
Tubarão não tem mais condições econômicas de sobreviver.
A usina Jorge Lacerda está
paralisada e nem o ministro das minas e energia, Shigeaki Ueki estava ontem em
condições de antecipar a data de sua volta às atividades normais.
E o problema se estende a toda
região. O lavador de Capivari que beneficiava todo o carvão produzido na região
para ser embarcado no porto de Imbituba, também não está funcionando. Ruíram
quatro grossos pilares de uma antiga ponte, construída pelos ingleses para transportar
o carvão de Criciúma, Lauro Müller, e
Urussanga para ser lavado em Capivari, e a ponte caiu. “a reconstrução vai
demorar pelo menos uns quatro meses”, antecipava ontem um funcionário.
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A tarefa de esvaziar a cidade, o
novo governo militar de Tubarão, está sendo auxiliado pela policia civil, por
ele criada armando estudantes, comerciantes e profissionais liberais. É o
seguinte o trecho do comunicado oficial que criou a policia civil e estabelece
suas atribuições;
“A polícia civil deve:” A –
Proibir o trânsito nas ruas da cidade de viaturas particulares e autorizando,
por meio de passes o transito para carros de emergências, para pessoas que
pretendem deixar a cidade, desde que haja condições de tráfego nas vias de
acesso e comunicação com os municípios mais próximos.
B – Controlar o consumo de combustível e
gás;
C-
Evitar, a qualquer preço, saques no comércio local;
D-
Requisitar o transporte de alimentos;
E-
Fiscalizar e punir os infratores das normas de trânsito e dos autores de saques
no comércio ou às residências particulares, bem como punir comerciantes que
vendem mercadorias acima do preço normal;
F-
Proibir a permanência de pessoas sem autorização após as 20 horas nas ruas (toque
de recolher).
Prefeitura municipal: deve
encarregar-se da organização do cemitério,construindo uma vala comum na parte
mais alta do morro,atrás do cemitério.Fotografar os cadáveres de frente e perfil;obter óleo queimado para a colocação
nas poças de água e bueiros evitando a proliferação de mosquitos;limpeza das
ruas;distribuição de cal nos caminhos e locais flagelados para a colocação nas
latrinas de emergência,abertura de latrinas publicas e de emergência nos locais
mais atingidos pelas enchentes”.
Governo fixa-se na região afetada
O governador catarinense Colombo
Salles, acompanhado do seu secretario e assessores dos serviços sociais,
sobrevoou ontem a região atingida pelas enchentes e, segundo ele, só retornará
a Florianópolis quando a situação melhorar. Ontem mesmo em Laguna, manteve uma
reunião com os prefeitos da região, a fim de saber mais detalhes sobre os danos
sofridos.
(continua)
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